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Mais vale...



Outro que deu para encontrar coisas por aí foi Jorge, meu parceiro de bilhar lá da vila. Achou no lixo – era catador – um pau. Sim, um pau: um cacete, um caralho, uma rola ou, eventualmente, se estivesse mole, um pinto, pois não era costume seu usar a palavra pênis. Gostava especialmente da palavra pau. Enfim, o interessante é que o pau era, segundo ele mesmo, igualzinho ao dele, sem tirar nem pôr: tamanho, formato, cor, veias, fimose. Enfim, era o seu pau. Razão pela qual ele o pegou sem qualquer constrangimento.

Jorge morava com Andréia, sua companheira. Estavam juntos havia alguns anos, mas ela sempre recusou seus pedidos de casamento, a pretexto de ter horror a igrejas e a cartórios. Dizia-se atéia e revolucionária. Na verdade, tinha lido um livro do Sartre que comprou no sebo, mas só as partes que já vieram sublinhadas, achando que eram as mais importantes. Apesar da banca de libertária, mataria Jorge se soubesse de Betânia.

Que, além de ser sua prima, era amante de Jorge. Ele gostava mais da amante, mas por um senso muito peculiar de fidelidade conjugal, não se separava da companheira. No fundo, era só um mulherengo frustrado. Se pudesse, teria mais amantes. Tanto que uma de suas frases favoritas no bilhar, quando passavam umas donas bem das aquitutadas na frente do bar, era:

- Tanta mulher no mundo e eu só tenho duas.

E eu, que não tinha nenhuma, ainda por cima andava louco por Andréia. Só que eu não podia furar os olhos do meu próprio parceiro de bilhar sem mais nem menos. Estávamos sempre juntos no bar. Quase sempre: no dia em que achou o pau no lixo, Jorge nem apareceu. Foi mostrar logo para Andréia. Ela pegou o pau e quase chorou. Perguntou:

- Doeu?

Ele explicou que estava tudo bem, que na verdade não tinha perdido seu pau, somente o tinha achado. Vai ver, todo mundo tem um outro pau por aí, era o que ele pensava. Tirou o seu, digamos, natural para fora para que Andréia compreendesse. Ela ficou comovida:

- É a coisa mais romântica que você já me fez.

Jorge deu de ombros, e eles treparam.

O mais curioso é que o pau achado no lixo reagia aos estímulos da mesma maneira que o digamos-natural: simultaneamente ficavam duros com a excitação e murchavam após o gozo. O que foi achado no lixo só não ejaculava porque não veio com o saco junto.

Seguiram-se, portanto, os dias mais felizes da vida sexual de Andréia até então.

* * *

Jorge tinha contado a Betânia de seu pau novo pelo telefone. Ela estava morrendo de vontade de experimentá-lo, mas Andréia não dava descanso ao companheiro. As visitas à amante tinham-se tornado menos freqüentes: duas vezes naquelas três primeiras semanas, e sem o brinquedo novo, do qual Andréia não desgrudava os olhos.

Angustiado para mostrá-lo à amante, ele bolou um plano: certa noite, após o sexo, disse a Andréia que, no dia seguinte, iria ao médico com o pau para ver se estava tudo bem, afinal aquela não era uma situação comum. Para ela estava tudo muito bem, aliás ótimo, mas ele conseguiu convencê-la. Mais ou menos.

Andréia já desconfiava que Jorge tinha uma amante, mas como nos últimos tempos conseguira fazê-lo ficar com ela o tempo todo, não tinha mais pensado nisso. Só que essa história de médico a deixou com uma pulga atrás da orelha. Durante a noite, pegou o lencinho onde guardavam o pau achado no lixo e substituiu a bênção por um pedaço de cenoura. Pela manhã, Jorge não se deu conta da troca, enfiou o pano enrolado no bolso e partiu para a casa de Betânia.

- Eu sabia que era mentira essa história toda – disse a amante, ao ver o toco do legume no lenço desenrolado.

Jorge ficou triste, imaginando que a mágica tinha-se acabado, como num conto de fadas em que carruagem vira abóbora. Betânia, que estava morrendo de saudades do amante e que não sentia saudade do pau achado no lixo pelo simples fato de nunca ter desfrutado dele, pôs-se a tirar o atraso daquelas semanas sem Jorge. Jorge, por sua vez, resignado a só ter um pau novamente, e também querendo matar a saudade, pôs-se a comer Betânia.

Em casa, Andréia pegou no pau achado no lixo quando ele ficou duro, pôs na boca e depois ficou de quatro.

* * *

Ainda na cama de Betânia, Jorge teve um pesadelo. Tinha ido dar uma mijada e seu próprio pau, o digamos-natural, tinha-se transformado em cenoura. Depois viu no espelho que seu corpo inteiro era uma cenoura. Enquanto isso, Andréia comia uma salada de paus ralados. Quando acordou, voltou depressa para a casa.

- Você precisou recolher esperma? – perguntou Andréia, só para dar o benefício da dúvida a Jorge.

Jorge não entendeu a pergunta, e com isso acabou se entregando. Andréia tirou o pau de entre as tetas, onde tinha guardado depois que ele murchou, e começou a bater em Jorge com o dito cujo.

Depois da surra, Andréia enxotou Jorge de casa. Ele tentou se justificar, dizendo que a amava, que ficaria com ela para sempre, toda essa ladainha. Nada adiantou. Ela não precisava mais dele. Ela mesma disse:

- Não preciso mais de você.
- Deixa disso, Andréia.
- Eu já tenho o que eu preciso – fez uma pose ridícula de Estátua da Liberdade, com o pau achado no lixo no lugar da tocha. – Hoje, descobri que não preciso mais de você, Jorge. Foi tão bom sem você, tão bom.

Jorge a puxou pelo abraço, aproximando-a de si. Ela não resistiu, mas fez que não com a cabeça. Ele disse:

- Você sabe que não sou só um pau. Eu posso fazer tudo por você.
- Não. Você já não me interessa. Você sabe, já te disse várias vezes: uma vez terminado, não vale a pena recomeçar. E depois, para as coisas que você presta, o primeiro meninote que me aparecer serve igualzinho.
- ...
- Adeus, Jorge.

Jorge alternava seus sentimentos: desamparo e raiva. Odiava quando Andréia o chamava de menino, criança, moleque, nomes desse tipo, só porque ele era mais novo que ela. Ele não precisava de outra mãe. Mas não tinha idéia do que fazer sem ela. Foi direto pro bar, mas não quis jogar bilhar nem tomar uma cachaça. Quando me contou tudo isso, estava desesperado e não sabia o que fazer. Mas eu sabia.

- Jorge, meu velho, tua mulher te largou. Você sabe como ela é: não vai voltar atrás. O negócio é seguir em frente. Você está livre agora, pode ficar com a Betânia.
- É verdade. Mas e o meu pau?
- Se você voltar pra casa, a Andréia vai te capar e você vai ficar sem nenhum. Sabe como é: mais vale um pássaro na mão que dois voando.

O que é inegável. A idéia de perder dois paus no mesmo dia fez com que Jorge desistisse de voltar para casa. Consegui convencê-lo ainda a não ficar ali se lamentando e aproveitar para correr para os braços de Betânia. Assim que ele foi, dirigi-me à sua casa.

Andréia, apesar de toda a bravata, estava fragilizada. Consolei a dona um pouco, cheguei até a admitir que Jorge realmente não prestava:

- Você sabe como ele é, ele não vai voltar atrás, o negócio é seguir em frente que ele já deve estar já nos braços da outra.

Meu cálculo foi perfeito. Jorge realmente devia estar se enroscando com Betânia naquele exato momento, pois o pau achado no lixo começou a ficar duro entre as tetas de Andréia. Bateu instantaneamente uma vontade nela, um desejo louco, incontrolável. E eu fui o primeiro meninote a aparecer. Resultado: ela se jogou em cima de mim e o resto é história.


Por Thiago F. * 21:22 * segunda-feira, 18 de agosto de 2008