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Par ou ímpar





Para ler ouvindo My favourite game, dos Cardigans









Platão:
Par.

Aristóteles:
Ímpar!

Platão:
Óbvio que você é ímpar.

Aristóteles:
Ãhn?

Platão:
É par OU ímpar. Estamos jogando par ou ímpar.

Aristóteles:
Eu sei. Você é par, eu sou ímpar.

Platão:
Se eu pedi par, é óbvio que você é ímpar. É par OU ímpar. Não tem mais nenhum pra você escolher.

Aristóteles:
Que injusto. Quem começa é livre e o outro só escolhe o que sobra?

Platão:
A questão não é essa. Não há escolha. Logo, você não precisa falar ímpar, boçal.

Aristóteles:
Mas e esse "ou" - ele não pode ser conjuntivo? Que tal par e/ou ímpar?

Platão:
Assim teríamos um empate.

Aristóteles:
É verdade.

Platão:
Mas você me deu uma ideia.

Aristóteles:
Ah, não, profe. Já disse que discordo dessa história de ideias.

Platão:
Não é dessa ideia que estou falando. Zeus! Como você é burro.

Aristóteles:
Acho que tenho o direito de discordar do senhor.

Platão:
Cala a boca. Presta atenção. Se não, vai pra fora da sala.

Aristóteles:
Aulas do lado de fora? Seria legal.

Platão:
Já mandei calar a boca.

Aristóteles:
Sim, senhor.

Platão:
Eu tive uma ideia. Podemos expandir o par ou ímpar.

Aristóteles:
Como assim? Fazer par e/ou ímpar?

Platão:
Por exemplo.

Aristóteles:
Senhor, essa ideia foi minha.

Platão:
É só um exemplo. Não será só par e/ou ímpar. Será número par ou número ímpar ou número inteiro ou número real... daí o segundo jogador pode escolher.

Aristóteles:
Mas o primeiro tem que pedir par sempre?

Platão:
Não. Deixa de ser burro.

Aristóteles:
Não compreendo. Os dois poderão escolher?

Platão:
Isso mesmo. Finalmente você compreendeu.

Aristóteles:
Interessante. O desafio é maior.

Platão:
Exato. E o resultado imprevisível. Não teremos necessariamente um vencedor e um perdedor.

Aristóteles:
Com num RPG, todos são vencedores.

Platão:
Não. Nesse caso, são todos perdedores.

Aristóteles:
É que eu e...

Platão:
Deixe-me prosseguir. Por exemplo, você pode pedir par e eu pedir número primo.

Aristóteles:
Compreendo.

Platão:
Se a soma dos dedos for 5, eu ganhei.

Aristóteles:
Ótimo. Mas... e se for 2?

Platão:
Daí temos um empate.

Aristóteles:
Um empate de dois vencedores ou de dois perdedores?

Platão:
Um empate é um empate, seu jumento.

Aristóteles:
Então, o terceiro não está excluído.

Platão:
Não, não está.

Aristóteles:
Que complicado... não posso alcançar essa ideia.

Platão:
Aristóteles, se você continuar assim, vai reprovar nessa matéria.

Aristóteles:
Sempre reprovando a matéria, não é, profe?

Platão:
Está desafiando minha autoridade de filósofo? Não esqueça que você é só um aluninho aqui.

Aristóteles:
...

Platão:
Entendeu as regras do novo jogo?

Aristóteles:
Creio que sim.

Platão:
Então vamos tentar. Par.

Aristóteles:
Ímpar!

Platão:
Por Zeus! Seu demente! Você pode escolher qualquer coisa!

Aristóteles:
Eu escolhi ímpar. Não posso?

Platão:
Tenha um pouco de imaginação, por favor.

Aristóteles:

Por que o senhor não escolheu outra categoria de números então?

Platão:
Força do hábito.

Aristóteles:
Hábito, é? Pelo menos eu escolhi o meu...

Platão:
Escolha outro.

Aristóteles:
Por que eu?

Platão:
Porque eu sou o professor, eu mando aqui. Vai.

Aristóteles:
Tá. Número primo.

Platão:
Um, dois, três e já.

Aristóteles:
Um, dois, três e já.

Platão:
O que é isso?

Aristóteles:
Não sei, senhor.

Platão:
Nenhum de nós apresentou dedo algum.

Aristóteles:
O que isso significa, profe?

Platão:
Temos.. um não-número. Um não-ser.

Aristóteles:
Profe, isso está ficando difícil.

Platão:
Não compreendo. Como pode haver o não-ser? Estaremos diante do nada?

Aristóteles:
Creio que não poderemos jamais saber do que não é.

Platão:
Rápido, traga o papiro e a pena. Começaremos a aula a partir dessa questão.

Aristóteles:
Senhor, o combinado foi que quem perdesse no par ou ímpar buscaria o material. Não sei dizer se perdi. Talvez o senhor deva buscá-lo.

Platão:
Eu estou mandando.

Aristóteles:
Isso não é justo.

Platão:
O que é o justo?

Aristóteles:
Tá bom! Tá bom! Não começa! Que ódio ficar de recuperação.

Platão:
Como eu queria ter outro aluno. Como eu teria. Aquele rapaz, o Espeusipo... vou conversar com o pai dele. Preciso de um pupilo inteligente. Esse menino Aristóteles não vai longe.

Aristóteles:
Estou ouvindo, hein?

Platão:
Então aproveite e traga um giz! De castigo, escreverá cem vezes na lousa: "Só sei que nada sei". Pelas barbas de Sócrates!



Por Thiago F. * 13:35 * segunda-feira, 25 de janeiro de 2010