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Sábado 14




Para ler ouvindo Good morning, providence, do Gloria Record.





(Já passa do meio-dia. Num chalé, um casal dorme na parte de baixo de um beliche. Há manchas de sangue no lençol.)

Ela: Bom dia.
Ele: Hmm... bom dia.
Ela: Dormiu bem?
Ele: Não tem nada pra gente comer por aqui?
Ela: Teremos que ver na administração.
Ele: Estou todo arrebentado.
Ela: Eu já me sinto melhor. A noite foi ótima.
Ele: Ótima?
Ela: Sim, eu e você... foi ótimo. Não achou?
Ele: Kátia, preste atenção: todo mundo morreu.
Ela: Sim, mas depois... você não gostou?
Ele: Eu não consigo nem pensar nisso agora.
Ela: Você não gostou de mim?
Ele: Está bem: sim. Mas nossos amigos foram todos esquartejados por aquele psicopata numa máscara de hóquei. Eu.. eu tive que matá-lo. É muita coisa para mim. Desculpe se não consigo pensar em nós dois agora.
Ela: Tudo bem. Vai ficar tudo bem. Depois você pensa nisso. Só saiba que foi ótimo.
Ele: Eu matei uma pessoa... era um assassino, mas eu o matei...
Ela: Tudo bem, já passou. Provavelmente ele nem era vivo. Devia ser um zumbi ou um morto-vivo. Juridicamente falando,...
Ele: Dá um tempo, tá? Preciso de silêncio. (chora)
Ela: Tudo bem. Eu te adoro. Vem cá. (ela o abraça)

Ele: O que vamos fazer agora?
Ela: Ficaremos juntos para sempre. Um amor que nasce assim nunca termina.
Ele: Kátia, deixe de bobagens. O que faremos agora, neste momento? Os celulares não funcionam nesse acampamento de fim de mundo.
Ela: Vamos à casa da administração, lá tem um telefone.

(A caminho da administração.)

Ele: Meu Deus! Beto... degolado... eu acho que eu...
Ela: Não olha, querido. De qualquer forma, ele era um babaca mesmo.
Ele: O Beto era meu amigo, porra! Kátia!...
Ela: Estou aqui, querido. Estou aqui. Do seu lado. Estamos juntos.

(No chalé da administração.)

Ele: Merda! Para um morto-vivo, ele era bem esperto. Olha o que o filho da puta fez! Cortou os cabos de telefone!
Ela: Querido! Não se exaspere. Vamos comer aqui alguma coisa e pegamos o ônibus e vamos embora deste lugar, para sempre.

(Na entrada do acampamento.)

Ela: Você sabe dirigir ônibus? Mas é um herói mesmo. Eu sabia desde o primeiro momento.
Ele: Kátia, dá um tempo com essa história. Jason furou os pneus do ônibus também.
Ela: Não tem step?
Ele: Não, não tem step, porra!!
Ela: Tudo bem, amor. Vamos andando até onde os celulares dão sinal.

(No bosque.)

Ela: Um passeio é sempre bom para esfriar a cabeça, né? Pôr as idéias no lugar.
Ele: Estou tentando pensar.
Ela: Está pensando em quê?
Ele: Kátia...
Ela: Não, deixa eu adivinhar!
Ele: Kátia!...
Ela: Está pensando em nós dois, ontem à noite, depois de tudo... em como foi lindo, maravilhoso... Aposto que está pensando em aproveitar que estamos sozinhos, aqui, no meio do mato... Quer repetir? Eu topo!
Ele: Puta que me pariu, Kátia! Eu não devia ter voltado pra te salvar quando você tropeçou e começou a gritar. Devia ter te deixado lá, para o Jason te matar também. Se não fossem esses peitões...
Ela: Quer dizer que você gostou de ontem, então?
Ele: AAHHH! CALA A BOCA!
Ela: Você... quer discutir o relacionamento? O que eu fiz de errado? (chora)
Ele: Olha só, aqui já dá um pouco de sinal! Vamos ligar! Vamos ser salvos!
Ela (ainda chorando): Mas e depois... o que vai acontecer entre nós? Vamos nos separar?
Ele: Não há nada entre nós! Nada! Passamos uma noite, por acaso! Foi a adrenalina! Foi a tensão! Porra, meus amigos morreram! Minha namorada morreu lá, junto com todos! O que você esperava? Vamos embora daqui, vamos esquecer tudo isso! Pronto.
Ela (chorando): Achei que me amasse...
Ele: Pronto, pronto. Vamos ligar.

(Ligam. Depois de um tempo, chegam duas viaturas.)

Xerife: Boa tarde. O que aconteceu por aqui?
Ela: Foi um massacre, xerife... Todos morreram.
Ele: O senhor não vai querer acreditar... mas parece que foi um morto-vivo, alguma força do além. Eu o matei... Cristo, eu o matei. Tive que matar.
Xerife: Como foi?
Ele: Ele vacilou... estava de costas, parado... não sabia se seguia os gritos de Kátia...
Xerife: Quem é Kátia?
Ele: Ela.
Xerife: Ok.
Ele: Ele não sabia se ia atrás dela, os gritos estavam distantes... e eu o acertei pelas costas. Atravessei o puto. Ele caiu morto de uma só vez, de cara no chão. Ele usava uma máscara de hóquei. Não gritou nem nada. Simplesmente caiu morto.
Xerife: O senhor está me dizendo que matou um morto-vivo assassino?
Ele: Sim, tente acreditar. Eu posso levá-lo até ele.
Xerife: Ok.
Ela: Sim, assim aproveito e pego minha bagagem no chalé.
Ele: Xerife... o senhor pode levá-la para a cidade? Ela está em choque.
Ela: Não, eu fico! Por que você quer se afastar de mim?
Ele: Xerife, por favor. Depois levaremos as coisas dela.
Xerife: Ok. Policial, leve-a para a cidade.
Ela: Não! Não, não e não!
Policial: Vamos, moça. Não há nada que a senhora possa fazer.

(Junto do cadáver de Jason.)

Xerife: É bom que este corpo se pareça bastante com um morto-vivo, filho... se não, terei que prendê-lo.
Ele: Fique tranqüilo, xerife. O senhor verá que é uma força do além.
Xerife: Vire o corpo do tal Jason, rapaz. Isso, agora tire a máscara.
Ele: Não posso fazer isso, senhor. Não posso olhar no rosto da criatura que matei, mesmo a odiando.
Xerife: Faça o que eu mando, rapaz, ou eu o prendo por obstrução à justiça.
Ele: Ok... mas.. o que é isso? Bruno? Amordaçado? Bruno, por que você fez isso conosco?... Achei que fôssemos amigos...
Xerife: Rapaz... me parece que foi você quem fez isso. Todos esses mortos que vimos pelo caminho.
Ele: Não, senhor. Foi ele. Veja, a máscara! O cutelo!
Xerife: E por que ele estava amordaçado?
Ele: Não sei, senhor... não sei... eu não matei o Bruno... matei o Jason...
Xerife: Ele está aí, morto, do jeito que você disse que o matou. Não há Jason nenhum, certo, rapaz?
Ele: Será que fui eu que o matei, pensando que era outro?
Xerife: Está em maus lençóis, rapaz.
Ele: Juridicamente falando,...
Xerife: Cale-se. Está preso.
Ele: Não faça isso, senhor! O Jason deve ainda estar solto por aqui! Ele vai nos matar. Liberte-me, vamos fugir enquanto há tempo.
Xerife: Já disse para se calar, assassino. (aplica uma coronhada no rapaz)

(Na outra viatura.)

Ela: O senhor tem namorada, policial?
Policial: Sim. Na verdade, sou casado.
Ela: Ai, que bom para o senhor. É tão difícil hoje em dia arranjar alguém. Eu tento, tento, tento e nada... armo os maiores planos, faço os maiores sacrifícios. Mas nada. Acho que os homens só se interessam pelos meus peitões.
Policial: São belos peitões, senhora.
Ela: Senhorita, policial. Senhorita...


Por Thiago F. * 11:41 * segunda-feira, 9 de março de 2009