ARDEVERBO
Links
Desenhos
Gisele Quer Morrer
Comunicação Exponencial
A Saga de Barackão
Rua Bosta
Tira bom, tira ruim
8-tracks Mixtapes
| ||||
Para ler ouvindo Good morning, providence, do Gloria Record. (Já passa do meio-dia. Num chalé, um casal dorme na parte de baixo de um beliche. Há manchas de sangue no lençol.) Ela: Bom dia. Ele: Hmm... bom dia. Ela: Dormiu bem? Ele: Não tem nada pra gente comer por aqui? Ela: Teremos que ver na administração. Ele: Estou todo arrebentado. Ela: Eu já me sinto melhor. A noite foi ótima. Ele: Ótima? Ela: Sim, eu e você... foi ótimo. Não achou? Ele: Kátia, preste atenção: todo mundo morreu. Ela: Sim, mas depois... você não gostou? Ele: Eu não consigo nem pensar nisso agora. Ela: Você não gostou de mim? Ele: Está bem: sim. Mas nossos amigos foram todos esquartejados por aquele psicopata numa máscara de hóquei. Eu.. eu tive que matá-lo. É muita coisa para mim. Desculpe se não consigo pensar em nós dois agora. Ela: Tudo bem. Vai ficar tudo bem. Depois você pensa nisso. Só saiba que foi ótimo. Ele: Eu matei uma pessoa... era um assassino, mas eu o matei... Ela: Tudo bem, já passou. Provavelmente ele nem era vivo. Devia ser um zumbi ou um morto-vivo. Juridicamente falando,... Ele: Dá um tempo, tá? Preciso de silêncio. (chora) Ela: Tudo bem. Eu te adoro. Vem cá. (ela o abraça) Ele: O que vamos fazer agora? Ela: Ficaremos juntos para sempre. Um amor que nasce assim nunca termina. Ele: Kátia, deixe de bobagens. O que faremos agora, neste momento? Os celulares não funcionam nesse acampamento de fim de mundo. Ela: Vamos à casa da administração, lá tem um telefone. (A caminho da administração.) Ele: Meu Deus! Beto... degolado... eu acho que eu... Ela: Não olha, querido. De qualquer forma, ele era um babaca mesmo. Ele: O Beto era meu amigo, porra! Kátia!... Ela: Estou aqui, querido. Estou aqui. Do seu lado. Estamos juntos. (No chalé da administração.) Ele: Merda! Para um morto-vivo, ele era bem esperto. Olha o que o filho da puta fez! Cortou os cabos de telefone! Ela: Querido! Não se exaspere. Vamos comer aqui alguma coisa e pegamos o ônibus e vamos embora deste lugar, para sempre. (Na entrada do acampamento.) Ela: Você sabe dirigir ônibus? Mas é um herói mesmo. Eu sabia desde o primeiro momento. Ele: Kátia, dá um tempo com essa história. Jason furou os pneus do ônibus também. Ela: Não tem step? Ele: Não, não tem step, porra!! Ela: Tudo bem, amor. Vamos andando até onde os celulares dão sinal. (No bosque.) Ela: Um passeio é sempre bom para esfriar a cabeça, né? Pôr as idéias no lugar. Ele: Estou tentando pensar. Ela: Está pensando em quê? Ele: Kátia... Ela: Não, deixa eu adivinhar! Ele: Kátia!... Ela: Está pensando em nós dois, ontem à noite, depois de tudo... em como foi lindo, maravilhoso... Aposto que está pensando em aproveitar que estamos sozinhos, aqui, no meio do mato... Quer repetir? Eu topo! Ele: Puta que me pariu, Kátia! Eu não devia ter voltado pra te salvar quando você tropeçou e começou a gritar. Devia ter te deixado lá, para o Jason te matar também. Se não fossem esses peitões... Ela: Quer dizer que você gostou de ontem, então? Ele: AAHHH! CALA A BOCA! Ela: Você... quer discutir o relacionamento? O que eu fiz de errado? (chora) Ele: Olha só, aqui já dá um pouco de sinal! Vamos ligar! Vamos ser salvos! Ela (ainda chorando): Mas e depois... o que vai acontecer entre nós? Vamos nos separar? Ele: Não há nada entre nós! Nada! Passamos uma noite, por acaso! Foi a adrenalina! Foi a tensão! Porra, meus amigos morreram! Minha namorada morreu lá, junto com todos! O que você esperava? Vamos embora daqui, vamos esquecer tudo isso! Pronto. Ela (chorando): Achei que me amasse... Ele: Pronto, pronto. Vamos ligar. (Ligam. Depois de um tempo, chegam duas viaturas.) Xerife: Boa tarde. O que aconteceu por aqui? Ela: Foi um massacre, xerife... Todos morreram. Ele: O senhor não vai querer acreditar... mas parece que foi um morto-vivo, alguma força do além. Eu o matei... Cristo, eu o matei. Tive que matar. Xerife: Como foi? Ele: Ele vacilou... estava de costas, parado... não sabia se seguia os gritos de Kátia... Xerife: Quem é Kátia? Ele: Ela. Xerife: Ok. Ele: Ele não sabia se ia atrás dela, os gritos estavam distantes... e eu o acertei pelas costas. Atravessei o puto. Ele caiu morto de uma só vez, de cara no chão. Ele usava uma máscara de hóquei. Não gritou nem nada. Simplesmente caiu morto. Xerife: O senhor está me dizendo que matou um morto-vivo assassino? Ele: Sim, tente acreditar. Eu posso levá-lo até ele. Xerife: Ok. Ela: Sim, assim aproveito e pego minha bagagem no chalé. Ele: Xerife... o senhor pode levá-la para a cidade? Ela está em choque. Ela: Não, eu fico! Por que você quer se afastar de mim? Ele: Xerife, por favor. Depois levaremos as coisas dela. Xerife: Ok. Policial, leve-a para a cidade. Ela: Não! Não, não e não! Policial: Vamos, moça. Não há nada que a senhora possa fazer. (Junto do cadáver de Jason.) Xerife: É bom que este corpo se pareça bastante com um morto-vivo, filho... se não, terei que prendê-lo. Ele: Fique tranqüilo, xerife. O senhor verá que é uma força do além. Xerife: Vire o corpo do tal Jason, rapaz. Isso, agora tire a máscara. Ele: Não posso fazer isso, senhor. Não posso olhar no rosto da criatura que matei, mesmo a odiando. Xerife: Faça o que eu mando, rapaz, ou eu o prendo por obstrução à justiça. Ele: Ok... mas.. o que é isso? Bruno? Amordaçado? Bruno, por que você fez isso conosco?... Achei que fôssemos amigos... Xerife: Rapaz... me parece que foi você quem fez isso. Todos esses mortos que vimos pelo caminho. Ele: Não, senhor. Foi ele. Veja, a máscara! O cutelo! Xerife: E por que ele estava amordaçado? Ele: Não sei, senhor... não sei... eu não matei o Bruno... matei o Jason... Xerife: Ele está aí, morto, do jeito que você disse que o matou. Não há Jason nenhum, certo, rapaz? Ele: Será que fui eu que o matei, pensando que era outro? Xerife: Está em maus lençóis, rapaz. Ele: Juridicamente falando,... Xerife: Cale-se. Está preso. Ele: Não faça isso, senhor! O Jason deve ainda estar solto por aqui! Ele vai nos matar. Liberte-me, vamos fugir enquanto há tempo. Xerife: Já disse para se calar, assassino. (aplica uma coronhada no rapaz) (Na outra viatura.) Ela: O senhor tem namorada, policial? Policial: Sim. Na verdade, sou casado. Ela: Ai, que bom para o senhor. É tão difícil hoje em dia arranjar alguém. Eu tento, tento, tento e nada... armo os maiores planos, faço os maiores sacrifícios. Mas nada. Acho que os homens só se interessam pelos meus peitões. Policial: São belos peitões, senhora. Ela: Senhorita, policial. Senhorita... | ||||